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Inclusão e preocupação ambiental no meio líquido

Projetos gaúchos de atividades aquáticas utilizam da natação para trazer oportunidades inclusivas e socioambientais.

Júlia Dresch


Considerado um esporte “completo”, por trabalhar todos os músculos do corpo, a natação é uma das atividades esportivas preferidas e mais praticadas no Brasil e no mundo. Com a fundação da União de Regatas Fluminense, em 1897, iniciou-se oficialmente a história da natação no país. Um ano depois, aconteceu o primeiro Campeonato Brasileiro de Natação, no Rio de Janeiro. Enquadrada entre os esportes aquáticos, nas Olimpíadas Paris 2024, a natação conta com mais de 30 eventos divididos em revezamento, livre, costas, peito, borboleta e medley (todos masculino e feminino). Porém, fora do ambiente competitivo, o esporte também se mostra muito presente. 


Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o Projeto Nadando Pelos Cartões Postais promove atividades esportivas amadoras de natação em águas abertas, buscando difundir o esporte, reforçando a importância da preservação do meio ambiente e incentivando o turismo de esportes de natureza. 

Flickr/Francismar Siviero

Idealizado e criado pelo nadador Francismar Siviero, praticante de natação e competidor Master há anos, o Projeto reflete o seu amor pelo esporte aquático e pelo meio ambiente. Junto com sua esposa, Francismar começou a viajar pelo mundo, participando de maratonas aquáticas na Itália, na Travessia do Lago Maggiore, em Portugal, do Swim Challenge Cascais e do Campeonato Nacional em Portimão, e no Uruguai, do Campeonato Sul-Americano Master em Punta del Este, entre outros locais. Surgiu então, em 2019, a vontade de criar experiências similares as vividas pelo casal, agora no Rio Grande do Sul. 


Com desafios voltados a questões sociais, o Projeto possui ações para limpeza de lagos, arrecadação de alimentos e plantação de árvores. “O atleta tem que fazer uma metragem na qual ele se inscreve, e dentro dessa mesma metragem, nós doamos, por exemplo, tantos quilos de alimentos para a Santa Casa, ou plantamos uma árvore etc. O nosso objetivo é finalizar (o desafio), cumprir uma meta sem se preocupar com o 1º, 2º e 3º lugar”, diz Francismar. 


Ao nadar em áreas naturais ao invés do ambiente fechado, maiores são as chances de percepção quanto ao impacto humano no meio ambiente. Assim, resultando na vontade do nadador em participar de ações de ajuda, limpeza, proteção e restauração desses ambientes. Francismar comenta que, a cada nova edição, consegue perceber um aumento significativo de participantes nos desafios: “o primeiro ano, em 2021, nós começamos com 25 pessoas. Em 2022, já tinha em torno de 100. E, nesse último ano, já passou de 300 participantes - entre pessoas caminhando, remando e nadando”. Para além dos números, outra mudança é perceptível para o nadador. “A conscientização ambiental e social aumentou, ao menos nesse nosso grupo. Dá pra ver que o pessoal se dedica mais, apoia mais na questão de segurança dos nadadores”. 


Cuidados seguidos pelo Projeto durante os desafios:

  • O nadador precisa ter prática com a natação em águas abertas;

  • A natação deve acontecer com boias de segurança por perto;

  • Existe suporte de auxiliares em caiaques;

  • Apoio da Marinha Brasileira com Jet-skis;

  • Corpo de Bombeiros por perto;

  • Apoio do grupo Escoteiros do Mar;



A água como meio para a autonomia 

A prática da educação física, da atividade física e do esporte é um direito fundamental de todos. Isso é o que diz a Carta Internacional de Educação Física, produzida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A Carta também assegura que “oportunidades inclusivas, assistivas e seguras para a participação na educação física, na atividade física e no esporte devem ser disponibilizadas a todos os seres humanos, em especial crianças de idade pré-escolar, pessoas idosas, pessoas com deficiência e povos indígenas”. 


Em Novo Hamburgo, há 49 km de distância de Porto Alegre, outro projeto envolvendo natação acontece. Focado na inclusão de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) de NH/RS, o Projeto Água Azul: Atividades Aquáticas Inclusivas, da Universidade Feevale com parceria com a Associação de Amigos do Autista (AMA) da cidade e a Escola de Aplicação Feevale, surgiu em resposta a ausência de espaços adaptados para atender crianças com diagnóstico de TEA em atividades aquáticas no município. 

Foto: Júlia Dresch

Idealizado, em 2023, pela coordenadora do Complexo Aquático da Feevale, Cíntia Tyson, o Projeto tem a professora Denise Berlese como líder e responsável. São 12 colaboradores das áreas de Educação Física, Pedagogia e Psicologia, entre professores e acadêmicos da Universidade. A Pedagogia trabalha com a comunicação alternativa; a Psicologia com questões sócio emocionais e comportamentais das crianças; e a Educação Física está presente dentro da água, estabelecendo vínculos e auxiliando nas atividades aquáticas. 


O Projeto, portanto, não foca apenas na natação. E sim, em processos para auxiliar e trazer benefícios às crianças com autismo. Desde a etapa inicial de adaptação ao meio líquido, ensinando os alunos a molharem o rosto, flutuar e mergulhar, até “bater perna” de fato – com a intenção de contribuir para a independência dos pequenos dentro e fora da piscina. “A gente começa a estabelecer alguns critérios que são importantes para autonomia dessas crianças e adolescentes, para que eles saiam do projeto e possam se direcionar a uma atividade, uma prática esportiva”, comenta Denise. 


Demais benefícios são percebidos pela professora, como o relaxamento, a coordenação motora - melhora no equilíbrio, agilidade e força - e a própria socialização. Ainda que o Projeto não tenha completado um ano de atuação, Denise diz já ver evolução em seus alunos: “a gente considera que o Projeto tem conseguido bastante frutos em termos, não só motores, mas de comunicação, comportamentais, de escuta e estabelecimento de vínculos”. Com vagas limitadas, o Projeto atende moradores de Novo Hamburgo com Transtorno do Espectro Autista, de idade entre 6 anos e 16 anos, e responsáveis que fazem parte da AMA. Apesar do pouco tempo atuando, alguns adolescentes já saíram do Projeto. “Pode parecer ‘Nossa, vocês vão perder o aluno’. Não, a gente ganhou uma criança, um adolescente, que tá nadando sozinho, que tem autonomia, tem independência”, a professora se emociona ao dizer. 


Para participar do Projeto Água Azul: Atividades Aquáticas Inclusivas, o pedido de encaminhamento deve ser feito através da Escola de Aplicação Feevale ou da Associação de Amigos do Autista de Novo Hamburgo. 

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