Iniciativas esportivas transformam vidas e garantem um futuro promissor para a canoagem brasileira.
Alice Mesquita
A prática esportiva da canoagem no Brasil teve início na década de 40, de maneira informal. Mais especificamente no ano de 1943, o imigrante alemão José Wingen se mudou para Estrela, à beira do Rio Taquari, onde construiu um caiaque de madeira inspirado nas embarcações que utilizava durante sua infância na Alemanha. Assim, surgiu o primeiro caiaque no Rio Grande do Sul e no Brasil.
Chamado de "regata", a pequena embarcação rapidamente despertou o interesse da comunidade local pela nova atividade. Contudo, a falta de infraestrutura e a construção da represa de Bom Retiro nos anos seguintes resultaram em um período de estagnação para a canoagem no país.
A prática da canoagem teve uma retomada apenas nos anos 70 e 80, com a introdução dos primeiros caiaques de fibra de vidro vindos da Europa e Argentina. A partir de então, o esporte começou a se consolidar em solo brasileiro, com a criação da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), fundada em 1988, em Curitiba. O desenvolvimento e a organização da modalidade cresceram, obtendo reconhecimento internacional, graças ao esforço dos atletas e treinadores.
Após a recente ascensão da canoagem brasileira no cenário olímpico, durante as últimas edições das Olimpíadas - Rio 2016 e Tóquio 2021 -, é fato que o esporte passou a encher os olhos de mais telespectadores e ganhou novos adeptos.
O esporte como motivador para novas possibilidades
Há 18 anos, São Leopoldo concentra olhares especiais para os remos, sob as águas do Rio dos Sinos, com o projeto social Canoagem na Escola, realizado pela Secretaria Municipal de Educação (Smed). O foco inicial era trabalhar apenas com a segurança de alunos que se banhavam no rio. Entretanto, mesmo sem pretensões, o trabalho vinculado às escolas fez com que os participantes se interessassem pela canoagem, percorrendo distâncias maiores e participando de competições. Assim, foi fundada a Associação Leopoldense de Ecologia e Canoagem (Aleca), que, até hoje, conquista títulos e forma campeões em águas leopoldenses.
Rauany Oliveira começou no projeto aos 10 anos de idade, através do primo que também participava das atividades. Hoje, com 19 anos, a jovem atleta já conquistou 36 medalhas, sendo um de seus maiores triunfos ficar entre as três primeiras colocadas no Campeonato Sul-Americano de Canoagem, realizado no Equador.
“Esse esporte se tornou minha vida, acabei conhecendo pessoas e lugares incríveis, pessoas que se tornaram minha segunda família. Uma experiência marcante que tive foi quando remei no Equador em 2019, pois nesse ano eu ainda tinha 13 anos, competi contra as meninas de 18, e fiquei em segundo lugar”, afirma.
Para Giovana Rocha, de 17 anos, a prática da canoagem tem um significado especial, sendo um fator que influencia diretamente na vida pessoal da atleta. “A canoagem me ensinou tudo que sei hoje: a ter foco, disciplina, dedicação, responsabilidade, respeito. Este esporte te ensina a correr atrás do que você quer”, destacou.
Em média, o Canoagem na Escola recebe 400 crianças e jovens por ano e, atualmente, conta com 192 participantes entre alunos e atletas, atendendo as escolas com maior vulnerabilidade ou que tenham o perfil de crianças que tomam banho no rio. Dione Moreira, de 27 anos, fez parte do projeto quando criança. Hoje, formado em educação física, é professor e também dá aulas para as crianças do projeto. Dione enfatiza os resultados positivos que o programa traz para os participantes. “O projeto abre portas e horizontes, os atletas passam a sonhar alto, pois enxergam a possibilidade de futuros melhores. Além de mudar alguns valores. Quando estive ali, me motivei a estudar mais e, então, fazer educação física”.
A fala do ex-aluno expõe o impacto positivo causado na vida daqueles que participam e participaram das atividades, como explica a coordenadora Daniela Maioli: “a partir do momento em que eles entram no time, não podem mais tirar notas baixas, tem que trazer cópia do boletim. Então, acabam se motivando a estudar para não sair da equipe”.
Daniela ainda relata que a prática da canoagem, e as conquistas de medalhas e campeonatos fez com que os alunos recebessem um outro olhar da sociedade ao seu entorno. “Tínhamos vários que eram conhecidos na escola pelo mau comportamento e depois que entraram na canoagem, passaram a ser exemplo e começaram a ser reconhecidos como ‘o menino da medalha’, ‘o menino da canoagem’”, diz a coordenadora.
Projetos sociais como agentes na formação de novos atletas
A realidade vivida por Rauany e Giovana destaca um fator importante: trabalhos sociais, vinculados à prática esportiva, são importantes ferramentas na construção de novos atletas para a modalidade, garantindo assim que o futuro deste esporte siga promissor. “Meus planos para o futuro incluem seguir como atleta. Como ano passado eu consegui realizar uma das minhas metas que era ir para um Sul-Americano, agora a meta é ir pra um Mundial e depois para as Olimpíadas”, ressalta Giovana.
Já Rauany também enfatiza a vontade de seguir a carreira de atleta o tempo que conseguir. “Minhas metas ainda são participar das Olimpíadas, me manter como atleta por muito tempo, e depois me manter como professora”.
Ao olhar para o futuro da canoagem no Brasil, é evidente que o investimento em projetos sociais e no desenvolvimento de jovens atletas como Rauany e Giovana é de suma importância. Essas iniciativas não apenas promovem o esporte, mas também transformam vidas, oferecendo a oportunidade de sonhos se tornarem realidade. Com a dedicação de atletas e o suporte de programas comunitários, a canoagem brasileira está bem posicionada para continuar a crescer e alcançar novos patamares, tanto nacionalmente quanto no cenário internacional.
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