A importância da força mental de tenistas em alta performance.
Lucas Fontes
No dia 31 de maio de 2021, às vésperas de Roland Garros - um dos mais importantes torneios de tênis e que compõe os quatro Grand Slams do calendário dos tenistas - a japonesa Naomi Osaka, então número 2 do ranking mundial, anunciava a desistência de sua participação no torneio. O motivo? Naomi havia tornado público seu diagnóstico de depressão e ansiedade, com as quais lutava desde 2018. “A verdade é que sofri períodos longos de depressão desde o aberto dos Estados Unidos de 2018, e tenho tido muita dificuldade de lidar com isso”, escreveu Naomi em seu perfil no X (antigo Twitter). Segundo a psicóloga esportiva Isabella Severino, a ansiedade é um dos principais problemas enfrentados por tenistas. “Se compararmos a outros esportes, o tênis sempre teve mais atenção a essa questão psicológica de saúde mental dos atletas. Principalmente após a pandemia, o número de atletas que nos procuram e têm problemas com ansiedade, aumentou”, comenta.
A desistência da japonesa gerou grande repercussão e trouxe à tona discussões delicadas relacionadas à saúde mental, que muitas vezes são relativizadas ou diminuídas no cenário do esporte. O Tênis, esporte no qual Naomi se destacou e construiu sua carreira, é considerado por atletas e profissionais de psicologia um dos esportes mais exigentes no que diz respeito à saúde emocional e mental. O ex-tenista e professor de tênis Rafael Dal-Zini explica que o tênis, por ser um esporte individual, exige uma capacidade mental e emocional muito mais alta. “Às vezes, o atleta, além de enfrentar o adversário, precisa enfrentar a si mesmo durante as partidas, principalmente em momentos desfavoráveis”.
As partidas, que além de exigirem um trabalho físico exaustivo, no qual os atletas trabalham durante treinamentos e preparações, ainda demanda uma excessiva carga de controle e inteligência emocional. O tenista suíço Roger Federer, um dos maiores vencedores do esporte, sempre ressaltou que, para ele, a sua força mental era seu principal atributo e que, no fim das contas, isso ficava acima de números e estatísticas. Em entrevista à uma ação de marketing do banco Credit Suisse, Federer afirmou: “minha mentalidade era completamente diferente. Agora, ela é sobre manter um nível saudável, se manter motivado, ter diferentes desafios de quando eu era mais novo”. O tenista complementa ao ressaltar a importância do preparo emocional no esporte. “Naquele tempo, eu sabia que era difícil, mas também era algo positivo, e me dei conta que a resistência mental e força mental foram um dos fatores-chave mais importantes para uma carreira de sucesso, especialmente a longo prazo”.
Ao reassistir partidas históricas, como a decisão do Australia Open de 2009 entre Roger Federer e o espanhol Rafael Nadal, é possível notar que a vitória e a derrota são decididas nos detalhes, principalmente porque a qualidade técnica nesses confrontos é do mais alto nível. E esses detalhes são, muitas das vezes, resultados de uma força mental que se impõe em momentos em que o corpo e o físico já estão no limite. “Um dos pilares do tênis é a mente, e ter uma mente fortalecida e blindada é um dos principais atributos que vemos nos grandes atletas do esporte”, diz Dal-Zini.
Atletas não são máquinas e no mundo de hoje é necessário o acompanhamento psicológico para equilibrar as demandas mentais e emocionais que o esporte em alto nível exige. Grandes personagens do cenário do tênis já reconhecem isso. Além de Federer, outros tenistas já falaram sobre o tema, como o tenista russo Daniil Medvedev que afirmou em entrevista à BBC Sports que o acompanhamento de uma psicóloga do esporte foi fundamental na sua melhora em quadra.
Em um esporte tão exigente como o tênis, é importante que os treinadores e jogadores entendam que a preparação psicológica é tão importante quanto a preparação física e deve ser acompanhada regularmente.
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