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NOTÍCIAS | AGECOM FEEVALE

Por trás do tapete vermelho

Pelo 11º ano consecutivo, o jornalista e crítico Marcos Santuário participa da equipe de curadores do Festival de Cinema de Gramado

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Por Laura Schommer


A edição que marcou meio século de existência e realização ininterrupta do Festival de Cinema de Gramado não poderia ter sido de outra forma, senão repleta de novidades. Entre elas, a estreia da atriz Dira Paes no trio de curadores, a exibição do primeiro longa acreano, “Noites Alienígenas” - que levou o Kikito de melhor filme brasileiro -, o lançamento de uma parceria com o TikTok para a produção de curtas-metragens na plataforma e, uma das mais esperadas: a retomada do evento de forma presencial, após dois anos em formato híbrido.


Desde a primeira edição, mais de mil Kikitos foram distribuídos para profissionais do cinema, concorrendo em diferentes categorias. Um dos responsáveis pela seleção das produções e longevo na casa, o curador Marcos Santuário é jornalista e crítico cultural, tendo participado de 11 das 50 edições do festival. Nas áreas do cinema e da comunicação, Santuário acumula funções: é um dos fundadores da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS); professor e pesquisador na Universidade Feevale, nas áreas de comunicação, cultura e indústria criativa; editor assistente de Cultura do jornal Correio do Povo e editor do blog Cine CP, também do Correio.


Sobre a edição de número 50, o curador ressalta a quantidade expressiva de produções inscritas, a constante busca por inovação e o trabalho de curadoria realizado por Dira Paes, Soledad Villamil e ele. A data para o 51º Festival de Cinema de Gramado já está marcada: de 11 a 19 de agosto de 2023.


São 50 edições de festival e você é curador desde 2012. Nesse período, quais foram as principais mudanças observadas nas produções?

Uma das mudanças principais é que aumentou muito a qualidade dos filmes e a quantidade de filmes que a gente tem. Em 2012, estávamos recém começando a reconquistar esse universo brasileiro de pessoas mandando filmes. Porque os diretores não mandavam muitos filmes para Gramado, eles não tinham mais muita vontade de estar em Gramado, por uma questão pessoal. A gente mudou esse olhar do festival e então começamos a receber muitos filmes. Naquele momento, eu comecei a fazer a curadoria com o José Wilker e o Rubens Ewald. E aí, começamos a fazer um festival que fosse mais aberto, com filmes que dialogassem com o mundo inteiro. Hoje, recebemos mais de mil filmes para fazer o festival e para escolher poucos, não são muitos os filmes que podemos colocar.


De que forma os filmes selecionados dão conta de representar a diversidade cultural do Brasil e da América Latina?

É muito difícil ter toda essa diversidade em tão poucos filmes, então, o trabalho que tivemos esse ano - a Dira Paes, a Soledad Villamil e eu - foi muito intenso, porque a gente tem que imaginar assim: os sete filmes tem que acabar representando todos os 300 que ficaram de fora. Por isso, procuramos filmes de regiões diferentes, de lugares diferentes e com temáticas diferentes, porque aí cada filme pode representar pelo menos outros 20 filmes. O filme “A mãe”, que abriu o festival de cinema, trata sobre a violência da polícia militar, sobre as relações entre mãe e filho e, também, um Brasil intenso. Que outros filmes têm o mesmo tema? Pensando nisso, a gente reúne esses filmes e determina qual tem o maior rigor cinematográfico, a maior capacidade de transmitir essa obra e atores importantes - temos o maior tapete vermelho do Brasil, então precisamos ter artistas de peso que passam pelo tapete. A gente se esforça para mostrar um cinema diverso, mesmo com tão poucos filmes. Tem outros festivais, como o Festival do Rio e o Festival de São Paulo, que têm 300 filmes, e aí é fácil, em 300 filmes, mostrar toda a diversidade do país. Mas a gente trata de fazer isso mesmo tendo essa dificuldade de números.


Este ano, pela primeira vez, o festival tem produções de TikTok concorrendo. Como se dá essa associação do cinema com as mídias sociais?

O Festival de Cinema de Gramado tem 50 anos, ele nunca deixou de acontecer. E um dos motivos para isso é que ele sempre foi se atualizando, e agora é um momento também de mostrar que está atualizado. A gente tem trabalhado muito com as redes sociais já há algum tempo, e de repente trazer uma rede como o TikTok para dentro do festival é mostrar isso, que a gente quer que o festival de cinema continue avançando e consiga dialogar com outros tipos de redes e outros tipos de público. E deu muito certo, porque os influenciadores do TikTok estiveram aqui, conheceram o festival de cinema que não conheciam, e o festival de cinema conseguiu abrir esse universo do TikTok para poder avançar e, nos próximos anos, trazer mais novidade ainda.


Como foi a dinâmica do novo trio de curadoria formado nessa edição?

Eu já conhecia a Dira de outros festivais e sabia que, além de uma grande atriz, ela é também uma grande conhecedora de cinema, assim como a Soledad Villamil, que é uma excelente atriz e que conhece muito de cinema. A Dira aceitou, e não foi fácil, porque ela está no meio da novela de maior sucesso nesse momento, que é a refilmagem do Pantanal. Eu lembro bem que eu liguei para ela e ela estava no meio do pantanal. Ficamos mais de meia hora conversando para ela entender o que era fazer a curadoria e o que significaria para ela em questão de tempo, quantidade de filmes, se ela tinha que viajar… Porque tudo isso determinaria se ela iria aceitar. A mesma coisa eu fiz em 2018 quando chamei a Soledad Villamil. Depois que elas aceitam, aí a gente começa a conversar. No caso da pandemia, não dava para se encontrar, então foram muitas reuniões por Zoom, muito encontro on-line, e foi excelente. A gente viu: dá para fazer, vamos nos ajudar, vamos assistir aos filmes, vamos conversar. Fizemos várias reuniões depois, e no final das contas deu muito certo. Todos os filmes são escolhas unânimes dos três.


Você também é professor da Universidade Feevale. Como a experiência no Festival de Cinema contribui para a sua experiência em sala de aula?

É algo fundamental. Eu me orgulho muito de ser professor da universidade, faz  22 anos que eu sou professor da Feevale. A Feevale tem crescido muito em todos os aspectos, sempre com muita visão e muita capacidade de se readaptar a um universo melhor ainda para que os alunos tenham melhores experiências. E é nesse contexto que eu acabo acreditando que é fundamental que a minha participação aqui possa ser revertida em sala de aula. Como? É o maior festival de cinema do Brasil, o maior festival do audiovisual, tem gente de todos os lados, tem mais ou menos 500 jornalistas cobrindo o festival - de todas as partes do Brasil e de várias partes do mundo. Só isso, já dá também uma estrutura importante para que eu, em sala de aula, possa conversar, dialogar, mostrar como é que funciona o universo da comunicação - e aqui também tem muito Relações Públicas trabalhando; a publicidade é um universo também aqui - e eventualmente trazer os alunos, que é o que está acontecendo e acontece há muitos anos. Os alunos que vêm têm a possibilidade de capturar e de entender o que acontece num evento das proporções do festival de Gramado. Então, é uma experiência única, mesmo que outras universidades não tenham, e a gente consegue crescer a partir desse olhar.


Nos últimos dois anos, o evento aconteceu no formato híbrido, e a 50ª edição marca a retomada presencial do festival. Na sua perspectiva, quão importante é que essa troca de culturas e de conhecimento aconteça de forma presencial?

É essencial. Aprendemos muita coisa com a pandemia, uma delas é que um evento como o festival de cinema não pode ser só virtual. O festival não é só a exibição de filmes em uma tela, que tu podes ver em casa ou em qualquer lugar. Isso é parte de um festival. Claro, o evento visto em uma tela de cinema ganha ainda mais força, mas o fundamental é a presença, que significa também a troca, o debate, as conversas e muitos projetos  que acabam surgindo a partir de encontros como esse. É o que tem acontecido. Têm diretores que encontram atores, que encontram atrizes, que encontram produtoras e que acabam, aqui, desenhando projetos que daqui a pouco vão virar filmes, que depois retornam para o Palácio dos Festivais. É uma cadeia que precisa ser feita e mantida. Então não dá para ser só virtual, tem que ser, sim, um festival que tenha presencialidade, que é estar todo mundo junto, ver filmes, discutir filmes, discutir a política do audiovisual e falar de tudo.


É possível dizer que a cada edição você aprende algo novo? Se sim, o que aprendeu nesta edição?

Sem dúvida. Nessa edição eu aprendi sobre tudo isso. A gente pode ser híbrido, que dizer: a gente pode fazer um festival que seja online, mas que, sobretudo, tenha essa presença. E o mais importante é que as pessoas se encontrem e, a partir daí, surjam novos projetos.

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