Vôlei adaptado pode auxiliar na melhora da coordenação motora e comportamento cognitivo para pessoas com limitações físicas.
Éllen Pereira
Tem o mesmo nome, mas não o mesmo significado. O câmbio em questão não é a taxa e muito menos o câmbio de um carro, mas um esporte adaptado. Criado por professores de instituições de educação gaúchas na década de 90, o câmbio é considerado uma adaptação esportiva, por ser inspirado no vôlei, mas voltado para pessoas que têm alguma diminuição de mobilidade ou algum tipo de dificuldade com relação à prática do esporte original.
A atividade ajuda na melhora das capacidades físicas e cognitivas que são necessárias no dia a dia - como a força, a agilidade, a flexibilidade e a atenção-, além de valorizar a convivência, a troca de experiências e a construção de novas amizades.
Também conhecido como “vôlei adaptado”, o esporte possui regramentos diferentes e específicos do câmbio. Utiliza a mesma quadra, rede e tipo de bola e cada equipe é formada por nove jogadores - podendo ser do mesmo sexo ou mistos. No caso de equipes mistas, é necessário que os times tenham três jogadores do sexo masculino e seis do sexo feminino. O jogo tem dois tempos, com duração de 15 minutos, ou até que a primeira equipe atinja 15 pontos, o que ocorrer primeiro. O objetivo é o mesmo do vôlei: fazer a bola tocar a quadra adversária. É um jogo dinâmico, no qual é necessária muita atenção nas trocas de organização, nas rotações e em todo o processo da partida.
Qualidade de vida e longevidade
Dado que a maioria das pessoas que praticam esse esporte são idosas, a escolha da atividade também acontece pelas relações sociais. Sendo assim, muitas vezes existe uma busca por novas metas e objetivos, e o câmbio entra nessa perspectiva. Os grupos participam de competições e espaços de convívio coletivo, com pessoas da mesma geração ou de gerações próximas. Resultando em troca de informações, conhecimentos e formação de novas amizades.
No Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte de 2019, a Universidade Feevale apresentou uma pesquisa sobre a competitividade nos jogos de câmbio, as características de competitividade das pessoas que buscam esse esporte e de como isso se dá nos processos de treino e de competições. Com isso, houve a virada do entendimento de que as pessoas idosas jogam para se divertir. São pessoas que buscam e se interessam por essa nova perspectiva de participação no esporte e que querem desenvolver outras capacidades.
Aline da Silva Pinto, profissional de Educação Física e doutora em diversidade cultural e inclusão social pela Universidade Feevale, participou dessa pesquisa. “A prática esportiva ou qualquer nova aprendizagem na vida de um ser humano faz parte do desenvolvimento. A gente costuma entender que o ser humano está se desenvolvendo até uma determinada etapa da vida, mas o desenvolvimento humano é contínuo e todas as pessoas podem aprender algo novo”, diz a profissional. Aline trabalha com o componente curricular do processo da atividade física e envelhecimento no curso de Educação Física da Feevale, para ela, “além do desenvolvimento de capacidades físicas e de capacidade funcional para o dia a dia, aprender algo novo faz parte do nosso desenvolvimento integral como pessoas humanas. Isso faz a gente se sentir bem, dá qualidade de vida e, sem dúvida, vai contribuir para uma maior longevidade”.
Na região metropolitana de Porto Alegre, em cidades como Novo Hamburgo, São Leopoldo, Campo Bom e Ivoti, existem times e projetos em andamento relacionados ao câmbio. A professora de Educação Física Adeline Bervian Leobet dá aulas no Plug (Programa Lazer Unindo Gerações), projeto social municipal de Ivoti que oferece oficinas para moradores do município, de idades entre 5 anos e 91 anos.
A professora conta a sua percepção sobre o esporte, estando em contato com os seus alunos diariamente: “para a maioria, estar participando desses jogos adaptados é mais que um lazer, pois percebo que o esporte melhora a qualidade de vida, convívio social. Para alguns, o câmbio virou a válvula de escape para livrar-se da depressão, solidão, fugir de alguns vícios e trazer um equilíbrio à saúde mental fragilizada”.
O câmbio é um esporte considerado novo e que veio para ficar. Cada vez mais adeptos estão se interessando pela modalidade, preocupados com a sua saúde e qualidade de vida, e percebendo que não há limite de idade para praticar atividades físicas.
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