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O Brasil na cena da música eletrônica

Por Giovana Matte

Atualizado em 30 de março de 2021



A música brasileira é referência mundial. Mas para além dos sucessos clássicos da MPB e dos populares do sertanejo e do funk, o “jeitinho brasileiro” anda impactando outro estilo musical: a música eletrônica. Com artistas nacionais marcando presença internacionalmente e festivais brasileiros chamando a atenção do mundo inteiro, o Brasil vem se expandindo dentro desse cenário. Atualmente, é visto como um dos lugares mais promissores para o mercado da música eletrônica, abrangendo desde os estilos mainstream (populares) até as vertentes mais underground (alternativas).


Na sua essência, a música eletrônica pode ser definida como qualquer composição feita a partir de instrumentos eletrônicos como computadores, softwares e sintetizadores. A era dos anos 70 e 80, caracterizada pelas baladas de disco music, já contava com estes aparatos, porém foi só a partir dos anos 90 que este cenário tomou uma forma mais definida. Os DJs começaram a ser reconhecidos como artistas musicais, diversas festas exclusivas de música eletrônica começaram a surgir e as mais variadas vertentes desse estilo, como house, techno e trance music, começaram a se consolidar.


Os anos 2000 foram o estouro inicial do estilo eletrônico mais popular no Brasil. Porém, os DJs internacionais ocupavam quase que exclusivamente os palcos principais dos shows por aqui, e a grande maioria das músicas e dos gêneros produzidos em território brasileiro eram copiados de fora. Foi por volta de 2015 e 2016 que esse domínio dos gringos mudou e se abriram portas para o estilo nacional entrar em ascensão: ”Foi na hora certa e no momento certo”, defende o DJ e produtor musical Dimitri Bernard, 22 anos, nome por trás do projeto Bernax que surgiu em março de 2020. Dimitri é de São Paulo e é formado no único curso superior do Brasil de Tecnologia em Produção Fonográfica de Música Eletrônica, pela Universidade Anhembi Morumbi.


O DJ Bernax

“O estilo EDM, que era seguido pela maioria dos DJs, estava perdendo força e galera que curte música eletrônica procurava algo novo. Também, foi bem a época que o Brasil estava passando por uma crise e o dólar aumentou muito. Ficou muito caro para os contratantes trazerem os DJs lá de fora, e foi aí que os donos de festa tiveram que dar o espaço dos palcos principais para os artistas nacionais. O brasileiro de modo geral tem muito disso, de valorizar o que tem lá fora, e isso atrapalhava a visibilidade dos DJs daqui. Foram vários fatores que fizeram com que isso mudasse, e o brazilian bass e o movimento da eletrônica no Brasil fossem uma explosão”.


Brazilian bass é uma vertente da música eletrônica exclusivamente brasileira, que teve como alguns de seus precursores artistas como os DJs Alok e Vintage Culture, os quais justamente começaram a alavancar suas carreiras nessa época. Estes DJs vieram com uma proposta muito diferente da que era comum naquele tempo, o que foi um fator determinante para que o brazilian bass estourasse tanto no Brasil quanto internacionalmente. Hoje em dia, aqui esse estilo já se tornou ultrapassado, enquanto lá fora anda fazendo muito sucesso. Agora com o nome de slap house, esse gênero brasileiro vem marcando presença nas produções de diversos artistas gringos renomados. É o caso da Lady Gaga, que recentemente lançou seu álbum “Chromatica” com várias referências ao brazilian bass. “Acho que o brazilian bass fez tanto sucesso por que foi uma parada nova, diferente, não tinha em nenhum outro lugar do mundo. O Brasil, que sempre foi muito de copiar os estilos de fora na música eletrônica, dessa vez exportou”, explica Bernard.


Música "RUMORS" por Bernax, She Wants Me e Fernanda Dapper



O ranking dos “Top 100 DJs” da revista britânica DJ Magazine é um dos parâmetros mais influentes de popularidade de artistas da música eletrônica. E no ano de 2020 o Brasil teve um marco: quatro nomes brasileiros no ranking, sendo que um deles, o DJ Alok, está no top 5. Estes números, somados aos demais sucessos nacionais, fizeram com que o mundo enxergasse nosso país como a bola da vez. Segundo Dimitri, isso tudo estagnou com a pandemia, em todos lugares: ”Já saíram milhares de matérias, em portais nacionais e internacionais, dizendo que o Brasil é o país que mais cresce percentualmente nesse mercado, é um mercado muito rico. Por conta da pandemia, não só nós como o mundo todo perdeu muito. Mas antes a gente estava em um nível absurdo, todo final de semana era um festival com 20 mil pessoas aqui no Brasil, só de música eletrônica. Muitas festas, cachês de DJs altíssimos, algo que nunca tinha se visto antes”.

Fonte: Revista 'DJ Magazine'

O DJ Vermont

E não é só na cena mainstream que o movimento brasileiro de música eletrônica marca forte presença. Correntes alternativas, como a trance music, começaram a dar as caras ainda na década de 90 e permanecem até hoje consolidadas no cenário musical nacional como base dos maiores festivais de música eletrônica daqui. Além disso, o psytrance se tornou uma das vertentes mais populares do Brasil e cresceu de tal forma que já aparece também nos festivais mais tradicionais. É o que diz o DJ e produtor musical Rafael Ferrari, 32 anos, mais conhecido como DJ Vermont, projeto que atua há 9 anos: “Acompanhando o crescimento dos artistas e dos eventos, o psytrance se tornou mais popular, incluindo pessoas de todas as classes sociais e estilos musicais. Hoje o trance já está em festivais como Rock in Rio e Lollapalooza, dando grande holofote para todos que trabalham profissionalmente nesse cenário”.



O sucesso da linha brasileira do psytrance não se limita só ao território nacional. Internacionalmente, nosso país é referência tanto com o talento dos artistas quanto com as produções de eventos: “O Brasil tem um papel essencial no ramo do psytrance como um todo. Somos um dos maiores mercados do mundo, com grandes festas e festivais, o Brasil coloca um público expressivo todos os finais de semana em diversos eventos espalhados por todo país. Os DJs nacionais crescem muito e já alcançam o top mundial seja em streaming ou nos maiores line ups de festas e festivais por todo país”, ressalta Rafael.


Um dos maiores festivais do Brasil é o Universo Paralello. Ele acontece desde os anos 2000, na Bahia, e é um símbolo mundial da união entre amantes da música eletrônica. Rafael, que já tocou na maioria dos eventos pelo país, destaca que os festivais são mais influentes conforme o público que abrangem: “O Universo Paralello para o público mais antigo da cena e XXXPerience, Tribe Festival e Kaballah como portas de entrada para as novas gerações”.



Outros festivais nacionais também são destaques de acordo com as vertentes que seguem, conforme afirma Dimitri: “Acredito que a música eletrônica é um dos estilos que mais tem vertentes e subvertentes. Existem festivais que são muito influentes para o mainstream, como o Lollapalooza e o Rock in Rio que agora possuem palcos exclusivos para estes artistas da eletrônica. Outros já abordam uma parada mais underground, como a Exxxperience que é um legado nosso daqui”.


Uma coisa é certa: o movimento da música eletrônica do Brasil já teve muitas conquistas e continua seguindo firme na sua evolução. Por mais que o setor de festas e entretenimento seja um dos mais afetados pela pandemia, os artistas desse ramo seguem investindo em streaming e projetos paralelos para se manterem na ativa. Não só para as próprias carreiras, mas para os amantes de eletrônica que também compartilham o impacto da falta de shows e eventos ao vivo, da intensidade de milhares de pessoas juntas vibrando na mesma energia da música. Por enquanto, nos resta seguirmos curtindo à distância e lidando com a saudade das pistas.

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