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Musicoterapia: uma ferramenta de inclusão social

Por Júnior Busz

Atualizado em 02 de abril



O autismo é um problema psiquiátrico que causa desordens no desenvolvimento neurológico desde o nascimento ou nos primeiros passos da infância. Déficit na interação social ou na comunicação verbal e não verbal, padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos e interesses fixos são algumas das características apresentadas por pacientes com autismo, podendo variar a intensidade com que cada pessoa é afetada.


O tratamento para isso? Com medicamentos ainda em teste e sem um diagnóstico preciso para tratar o autismo, o que se tem de fato é o processo terapêutico. O acompanhamento médico multidisciplinar, composto por pediatra, psiquiatra, neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo, entre outros, é o tratamento mais recomendado para ajudar no desenvolvimento da criança autista.


Uma sinfonia diferente


O projeto "Uma Sinfonia Diferente" atende pessoas com autismo.

Foi pensando nisso que surgiu o projeto Uma Sinfonia Diferente, com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento de pessoas com autismo. A sua metodologia busca promover o protagonismo dos pacientes, apresentando à comunidade seus potenciais, conquistas e evoluções, proporcionando saúde e bem estar através da prática de musicoterapia.


Essa atividade traz benefícios não apenas para o aspecto físico do paciente, mas também para o convívio social. Como é o caso de Francisco Xavier Pacheco, 11 anos, que participa da terceira edição consecutiva do projeto. “Sempre quis colocar ele num projeto em que ele se sentisse bem, e uma coisa que ele se sente bem é com a música, então o projeto veio a calhar”, explica Amenaide Xavier, mãe de Francisco.


O projeto é o primeiro musical de crianças com autismo do estado do Rio Grande do Sul e é coordenado pela musicoterapeuta e produtora cultural Graziela Pires. Atualmente, o projeto Uma Sinfonia Diferente RS conta com o financiamento do PRÓ-CULTURA RS da Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.


“A gente já sabe, em nível de pesquisa, com as neurociências, o avanço da tecnologia, o quando a música trabalha a favor do desenvolvimento cerebral. Então a gente já sabe que crianças que têm contato com a música tem um cérebro desenvolvido de uma forma diferente”, destaca Graziela a respeito da influência musical no processo de desenvolvimento mental de pacientes com autismo, o que também é comprovado na fala de Amenaide, mãe do jovem Francisco:


“Ele tem apresentado uma grande melhora na sua comunicação, no seu desenvolvimento motor, ele também tem se mostrado mais concentrado nas atividades dele.”


Apresentação do grupo "Uma Sinfonia Diferente"

A musicoterapia


Um processo sistemático de intervenção, onde neste campo de conhecimento se estudam os efeitos da música e a utilização das experiências musicais do musicoterapeuta e do paciente de modo que a terapia aconteça. É dessa forma que Graziela define o conceito de musicoterapia, destacando os elementos musicais como ritmo, melodia, harmonia, contraponto, além de todos os sons que a pessoa tem capacidade de produzir como ferramenta terapêutica para trabalhar na prevenção, promoção, ou na reabilitação da saúde do paciente.


A musicoterapia é um processo terapêutico como qualquer outro. O começo e o final do trabalho seguem um raciocínio parecido independente do paciente, com a música de abertura como forma de acolhimento, e no final novamente uma canção de encerramento. O que diferencia cada sessão é o processo intermediário, onde o musicoterapeuta analisa de acordo com a necessidade de cada paciente qual a intervenção que deve ocorrer. Essa etapa da terapia é imprevisível, afinal de contas pode surgir algo espontâneo do próprio participante, um ritmo específico que ele se identifique ou até mesmo uma composição que aconteça durante o processo.


“A finalidade da musicoterapia é desenvolver o paciente, tanto na perspectiva de promover saúde como de prevenir doenças, ou na perspectiva de reabilitar esse paciente que passou por alguma questão de perda de habilidade, ou que tem algum transtorno e precisa desenvolver habilidades em longo prazo.”


Graziela Pires - musicoterapeuta

A música é um estimulante para o cérebro, que provoca diversas reações mesmo para quem está apenas recebendo aquele som. Na musicoterapia esse processo é ainda maior, pois se trata de uma atividade que estimula a ação do paciente, onde ele não só recebe, como também emite sons, gerando uma grande resposta do cérebro. Graziela explica que os benefícios que música traz, para além de serem fisiológicos, porque afeta a respiração e os batimentos cardíacos, “traz benefícios psicomotores para o paciente através do ritmo que convoca o paciente ao movimento, mas o paciente tem respostas muito melhores quando o musicoterapeuta trabalha em conjunto com, por exemplo, seu fisioterapeuta, porque ele faz movimentos onde é provocado pela música e não só pela exigência de ter que fazer um movimento”, destaca a musicoterapeuta.


Trabalho multidisciplinar


Musicoterapia, psicologia e pedagogia são algumas das áreas que compõem o trabalho multidisciplinar realizado pela equipe do projeto Uma Sinfonia Diferente. “O projeto possui uma equipe formada por vários profissionais de diversas áreas que trabalham em conjunto, coordenados por uma musicoterapeuta, possibilitando um atendimento global de acordo com as necessidades das pessoas e familiares com o transtorno autista”, informa a psicóloga Mara Rubia Ritter. Ela destaca ainda que dentro do projeto existem diversas psicólogas que trabalham em áreas diferentes, mas convergindo para o mesmo foco e objetivo, pensando sempre em desenvolver a capacidade social e a comunicação da criança autista. Vale ressaltar que esse trabalho se estende também para as famílias, com o acompanhamento e a supervisão dos profissionais do projeto que prestam suporte.


“A relação entre os diversos conhecimentos é a base para que o projeto se enriqueça e se torne interessante. Um auxilia o outro”.


Maria Rúbia Ritter - psicóloga e coord. grupo de pais do projeto

Adequação à pandemia


Inicialmente, as sessões de musicoterapia do projeto eram distribuídas durante o dia conforme o perfil e a necessidade das crianças. Porém, a pandemia trouxe uma situação em que todas as áreas tiveram que adaptar de alguma forma seus trabalhos para se manterem ativos. Para manter seus pacientes em evolução e não perder o ritmo que adquiriram ao longo dos últimos anos, o projeto adaptou suas sessões para o formato online. E por mais adverso que seja o momento, a interação entre pacientes, familiares e profissionais de saúde de tornou ainda mais próxima neste novo formato de terapia. “Várias foram as mudanças, mas sem perder a essência. Uma delas foi a presença dos pais durante a sessão de musicoterapia. Eles passaram a fazer o que os voluntários faziam, e os voluntários passaram a fazer algo de suma importância: emprestaram o seu olhar na observação da interação da criança, com pais e musicoterapeuta”, enfatiza a psicóloga.


Fotos: Vander Oliveira


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