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A paixão pela música nos corais

Por Tiago Braun

Atualizado em 30 de março



A música transforma a vida das pessoas e faz sentir emoções únicas em quem canta e em quem ouve. É a partir desse conceito que vamos conhecer um pouco de alguns corais da nossa região, através das suas histórias, os seus repertórios, o período de adaptação durante a pandemia, o significado para quem faz parte dos grupos, além de outras curiosidades sobre o assunto.


Coral União - Estância Velha


O coral União, de Estância Velha, foi fundado juntamente com a Sociedade de Canto União em 1894 por imigrantes alemães, que na época vieram morar na região. A primeira atividade da sociedade foi o coral, que nesse ano está completando 127 anos de atividades ininterruptas, sendo um dos corais mais antigos do Brasil na atualidade. O coral conta com 23 cantores, dos quais seis baixos, quatro tenores, cinco contrautos e oito sopranos.


Coral União

Andreas Mentz canta no coral União desde 2011, e desde 2017 é o presidente do grupo. “A coisa que eu mais gosto de fazer, sem dúvidas, é cantar no coral. Tenho vários familiares que cantam, ou cantaram no coral, um deles meu tio, que canta há muitos anos no coral, e desde quando eu era adolescente ele me convidava para cantar, me convencendo aos 20 anos”, relata Andreas.


Após cada ensaio Andreas se apaixonava mais. A partir daí, foi vendo como é bom participar do grupo, viajar, conhecer lugares, se apresentar em vários locais diferentes, e ver a confraternização que existe entre os cantores, entre os corais que existem no Brasil e no mundo em que acaba conhecendo. Para ele, a música é uma coisa indispensável na vida de todo mundo, porque ela proporciona emoções que só ela é capaz. Através da música as pessoas conseguem sentir alegria, tristeza, esperança e diversos outros sentimentos. E no coral, em especial, pelo fato do instrumento ser a voz, combinada umas com as outras, tem um poder enorme e isso acaba emocionando as pessoas, fazendo-as saltar da cadeira para te aplaudir, e depois da apresentação querer te abraçar, dizendo que foi incrível. Por tudo isso, Andreas diz que vale muito a pena fazer parte do grupo: “Realmente é algo que nunca pretendo parar, até que eu possa, eu vou continuar cantando em coral”, diz.


No coral União em específico, o nível técnico é um pouco mais elevado. Sendo assim, de uma maneira geral, pessoas que não tem experiência em canto coral ou solo, encontram certa dificuldade no início para se adaptar. Mas para Andreas, a pessoa tendo afinação, consegue ter totais condições de participar, porque a técnica do processo se aprende com a prática. Cantar com outras vozes ao teu lado pode ser um pouco desconfortável no início, mas com a experiência dos ensaios o resultado não demora a aparecer. É natural que no início seja estranho, como foi para Andreas também. Nunca havia cantado em coral antes, no começo se sentia um pouco perdido, mas logo entendeu como funciona e tudo ficou mais claro e fácil.



Desde março do ano passado o coral União foi impossibilitado o de fazer ensaios presenciais em função da pandemia e a sociedade teve que ser fechada. O coral teve que se adaptar, como a maioria dos outros grupos, fazendo ensaios on-line pelos aplicativos Zoom e Skype, e também trabalhando por áudios, onde o regente manda a partitura da música, para que o cantor estude sua linha melódica. Andreas relatou que há muita dificuldade em fazer ensaio pela internet com todo o coro por causa do delay, que é o atraso que existe entre o envio e o recebimento de um áudio, então se optou por fazer ensaio individual, onde cada um canta separadamente.


A escolha do repertório fica por conta do regente, Martin Alexandre Altevogt, e o coral sempre procura ter um repertório variado, cantando música erudita, sacra, música popular brasileira, pop internacional, folclóricas brasileiras, argentinas e alemãs. Em todo início de ano o maestro apresenta de três a quatro músicas novas, que são estudadas durante o ano e vão se mantendo, fazendo com que o coral aumente seu acervo de músicas.


Até por ter uma história longa, o coral já se apresentou em diversos lugares, sendo várias cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, e países como Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, sempre levando o nome da sociedade canto União e de Estância Velha para o mundo todo.


Para Andreas, a principal mensagem que o coral quer mostrar é que pessoas em sintonia e trabalhando juntas, conseguem transmitir mensagens que são tão bonitas, levando esperança e emoções boas para as pessoas. “A gente ensaia todas as semanas, três a quatro horas, nos empenhamos muito para construir uma música, levando meses, para que então possamos nos apresentar e levar nosso trabalho para as pessoas que gostam. E quando vemos as reações das pessoas, impactadas, emocionadas, sorrindo, chorando, isso vale a pena. Isso faz valer muito a pena, porque é para isso que a gente está lá. Então queremos passar uma mensagem de fé, alegria, esperança, paz, pois isso só se encontra na música, e isso é inigualável. Sempre digo para pessoas que nunca presenciaram um coral ao vivo, que façam isso um dia e procurem prestar atenção no que está sendo feito, pois é impressionante”, conta.


Mauro Harff e grupo vocal Confraria do Canto - Sapiranga


Com a regência de Mauro Harff, o grupo vocal Confraria do Canto iniciou suas atividades com este nome no final de 2015. O grupo de Sapiranga chegou a contar com doze participantes, e atualmente a Confraria do Canto é formada por um grupo feminino de nove vozes.


Mauro Harff e grupo vocal Confraria do Canto

Uma das integrantes é Vera Schoenardie. Para ela, cantar sempre é um exercício de atenção, fortalece a memória e eleva o espírito. “Já está comprovado que a música e o cantar podem acionar áreas nobres do cérebro e movimentam sentimentos positivos, como uma profunda harmonia interna e uma conexão saudável com o mundo, permitindo acessar a alegria de viver, isso se for música de qualidade”, afirma.


Na Confraria do Canto é aceita qualquer pessoa que gosta de cantar e está disposta a fazê-lo com disciplina e entusiasmo. O integrante participa de um ou dois ensaios com o objetivo de adaptar-se ao grupo, e a partir daí o regente define em que naipe (voz) a pessoa poderá cantar.


Para Vera, o canto Coral é um desafio de atenção plena, pois exige presença mental, emocional e corporal. Necessita harmonia consigo e com os outros, pois é um exercício de parceria. “Significa responsabilizar-se pelo individual, mas a serviço do coletivo.

O convívio com pessoas que partilham do mesmo objetivo é um ganho secundário muito gratificante”, conta.



Durante a Pandemia os encontros foram suspensos até setembro. No mês de julho o grupo gravou um clipe feito individualmente em estúdio da música chamada Maior, que pode ser visto no youtube e no facebook. Os ensaios, feitos no Sítio da Paz, em Sapiranga, acontecem num amplo e arejado salão. Este reencontro motivou uma apresentação na igreja da IECLB de Sapiranga. Foi feita uma live, sem a presença de público, na época do início do Advento. Esta apresentação pode ser assistida pelo portal Luteranos Ferrabraz. Em 2021 não aconteceram encontros do grupo em função do agravamento da pandemia.


O repertório é escolhido através de sugestões do grupo e também do regente, que analisa a adequação ao potencial do grupo. O canto coral tem por objetivo desenvolver a capacidade pessoal para o canto dentro de um contexto grupal. Isto significa buscar a harmonia, a cooperação, a escuta atenta, além da socialização num contexto agradável. A participação no coral também aumenta a capacidade respiratória, a memória, a concentração e torna-se um desafio de superação pessoal e grupal.


O grupo já se apresentou por diversos locais da região, como por exemplo, o Encontro de Corais (Montenegro), Festa de encerramento da Liga de Combate ao Câncer (Sapiranga), Culto de Advento a igreja da IECLB (Parobé), entre outros.


Coral Santa Cecília- Dois Irmãos


O Coral Santa Cecília, de Dois Irmãos, iniciou suas atividades por volta de 1860, sendo primeiramente apenas coral de homens. Anos mais tarde foi criado o coral misto e os dois estão em atividade até hoje. Ademir Klauck é o regente do coral misto e Roque Querino Klauck é o regente do coro masculino, onde participam em torno de 35 pessoas, juntando os dois grupos.


Coral Santa Cecília

Para Ademir, estar à frente de um coral tem grande valor: “É uma troca muito grande de energias entre regente e cantores, é uma atividade coletiva de integração, onde muitos se tornam um só, gerando não só música, mas um espírito de união”, afirma.


Ademir conta que quem inicia no coral, primeiramente precisa fazer uma classificação de voz, para definir em qual naipe (grupo) do coral vai cantar, para então ser integrado. Começando muitas vezes como ouvinte para conhecer a parte que deve cantar para então começar a atuar juntamente com seu naipe.


O Coral Santa Cecília tem em sua maioria pessoas de mais idade, muitos com dificuldade de acesso à tecnologia, mas ainda assim os ensaios ocorrem virtualmente. Não estão sendo feitas apresentações, pois até os ensaios presenciais estão proibidos pelos decretos estaduais, mas foi gravado um vídeo de Natal no final de 2020 em sistema presencial, individualmente, respeitando todos os protocolos sanitários.


O coral Santa Cecília tem basicamente dois repertórios distintos: um é o repertório para missas, no caso do coro misto, e para enterros de sócios da Associação Cultural Santa Cecília, e outro repertório para encontros de corais. Ademir conta que o repertório é escolhido tendo em vista a manutenção da tradição da música alemã no canto coral e também para ampliar a técnica do coral.


O coral já se apresentou em cidades como Nova Petrópolis, Arroio do Meio, Novo Hamburgo e Morro Reuter, tendo como objetivo manter a tradição do canto coral principalmente nas canções em língua alemã e louvar a Deus.


Coral Entretantos- Novo Hamburgo


Também com a regência de Ademir Klauck, o Coral Entretantos, de Novo Hamburgo, iniciou suas atividades em julho de 2009, e é formado por doze pessoas apaixonadas pelo canto coral.


Coral Entretantos

A forma de trabalho sempre se dá com cada um ensaiando em casa para somente juntar as vozes nos ensaios, cada cantor tendo gravações de músicas para ouvir e decorar. O repertório do grupo é basicamente popular, e decidido em comum acordo entre o regente e grupo, sempre buscando um amadurecimento técnico e musical do grupo.


Durante a pandemia, o grupo migrou para um sistema totalmente on-line, com encontros através de videoconferência e uso da plataforma Classroom para ensaios e atividades. Cada cantor enviou de seu celular gravações de áudio e vídeo para que o regente juntasse tudo, criando um canal no youtube e apresentando as músicas de forma virtual.



O coral Entretantos já se apresentou no Festival de Coros e na Feira do Livro de Novo Hamburgo, Festa do Sapato, em Sapiranga, além de cidades como Igrejinha, Campo Bom, Dois Irmãos e alguns festivais online no ano de 2020.


O Entretantos é fundamentalmente um grupo de amigos que utiliza o canto coral para reforçar esses laços e transmitir a alegria do grupo ao público. Os ensaios presenciais são geralmente seguidos por confraternizações.


Coro Cantares - Dois Irmãos


O coro Cantares, de Dois Irmãos, está em atividade desde 22 de abril de 1997 e tem como regente José Ronei Pehls. No Coro adulto fazem parte 28 pessoas e no infanto juvenil 30.


Coro Cantares adulto

Para o regente José Ronei, o Coro Cantares tem por finalidade congregar a comunidade em torno de valores culturais e estimular a prática da música coral, tendo em vista o desenvolvimento artístico e a valorização da coletividade, promover apresentações e outras atividades de caráter civil, social e cultural.


Coro Cantares Infanto Juvenil

Foram feitas duas perguntas para quatro participantes do coral: Débora Kist, 16 anos, cantora do Coro Infanto Juvenil, participando a nove anos do grupo, Sofia Brentano de Oliveira, 10 anos, que entrou no Coro Infanto Juvenil este ano, Rosangela Blume, 43 anos, que entrou este ano no Coro Adulto e Fabiano Linck, 50 anos, cantor e presidente da Associação Cultural Cantares.


Qual o significado de fazer parte do coral?


Débora: Fazer parte do coral é uma experiência única. O coral é como uma família,

aprendemos muito em cada ensaio, apresentação e viagem, só quem vive sabe. O

coral é um aprendizado que se leva para a vida.


Sofia: Fazer parte do coral é fazer parte de uma grande família, a gente aprende a conviver com pessoas diferentes, conhecer pessoas novas e fazer amizades.


Rosangela: Sempre tive um desejo muito grande de participar do Cantares. Achava lindo ouvir e assistir o coral e ao mesmo tempo era algo tão distante pra mim. Quando minhas filhas tinham idade suficiente para participar do Coro dos Anjos, insisti para que participassem. Isso em 2019. Foi aí que me encantei. Cantar além de ser maravilhoso

aos ouvidos, é dar alegria para a alma. Neste sentido tem um significado muito especial pra mim.


Fabiano: Sempre gostei muito de praticar arte, e pra mim, o canto coral é uma forma de me expressar artisticamente me sentindo parte de um conjunto, de um todo. Sei da

minha responsabilidade enquanto integrante do coro, mas entendo que o resultado

final é uma consequência do somatório dos resultados individuais de cada integrante.


Como é o início para quem está começando no coral?


Débora: O início para quem começa pode parecer complicado, porém se pedir ajuda para os colegas e para o regente você aprende de uma forma mais fácil e ainda faz amizades para a vida.


Sofia: No começo, é um pouco diferente, pois eu não conhecia quase ninguém, mas com o tempo a gente vai se adaptando e fazendo amizades.


Rosangela: Início bem desafiador. Particularmente nunca tive contato com a música, mas acho que está um pouco no sangue. Meu tio avô Justino Antônio Vier, tocava lindamente com o Coral Santa Cecília. Minha mãe faz parte do coral há pelo menos uns 15 anos, além de outras pessoas da família que possuem esse dom. Creio que eu possa unir a minha voz às tantas maravilhosas que compõe esse belo grupo com grande

dedicação e amor.


Fabiano: O que posso dizer é que apesar da ansiedade, falta de conhecimento da teoria

musical, e total inexperiência musical, o início e a permanência se deu de forma bem

natural. Lógico que o friozinho na barriga minutos antes das apresentações, me acompanha desde a primeira apresentação até os dias de hoje.



Os ensaios estão ocorrendo de forma híbrida, de acordo com as possibilidades impostas pela Covid-19. Mesmo quando há possibilidades de ensaios presenciais, se mantém os ensaios virtuais, para que todos possam continuar cantando e informados das atividades do grupo. Nas atividades presenciais há um rigoroso protocolo sanitário a ser seguido.


O repertório é feito através de sugestões dos cantores e uma análise técnica do regente.

O regente também escolhe de acordo com a necessidade de evolução dos coros,

trazendo desafio aos cantores e por último de acordo com a formatação dos espetáculos e compromissos do grupo para o ano.


O coral já fez muitas apresentações, sendo eventos da cidade de Dois Irmãos,

Grande Porto Alegre, Serra Gaúcha, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e no país vizinho

Uruguai em cidades como Montevidéu, Las Piedras, Canelones, Santa Luzia, Paso de

Los Toros e Vergara.

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