Por Mariana Giacomet
Atualizado em 12 de abril
A tecnologia vem transformando absolutamente tudo ao nosso redor. A forma como nos comunicamos, o jeito de consumir conteúdo, o compartilhamento de histórias diárias e, claro, a forma como conhecemos artistas e ouvimos músicas. Grande parte das inovações mais recentes está voltada para o mercado de entretenimento. Música, filme, fotografia, turismo etc. Tudo se modificou para dar mais possibilidades ao consumidor e abrir novos horizontes para os produtores.
Nascido em Porto Alegre, Duca Leindecker iniciou sua carreira artística aos 13 anos e, de lá para cá, construiu uma sólida trajetória como instrumentista, compositor, produtor artístico e escritor. Foi líder da banda Cidadão Quem. De 2008 a 2012 formou o duo Pouca Vogal, com Humberto Gessinger. Para ele a grande mudança ajudou os músicos a conseguirem gravar suas composições. ‘’Antigamente você nem conseguia produzir nada se não entrasse numa gravadora, e eram pouquíssimos que entravam. Hoje todos produzem e o difícil é fazer chegar nas pessoas”, conta o músico.
Essas mudanças são alimentadas, em grande parte, pela velocidade com que as informações rodam pelo mundo atualmente. Há pouco mais de cinco anos, era praticamente impossível imaginar que uma música pudesse vazar para todo o mundo antes de seu lançamento oficial.
O músico, cantor, compositor e produtor musical Thedy Corrêa é um dos fundadores da banda Nenhum de Nós, com mais de trinta anos de carreira e nome consolidado no cenário da música brasileira. Ele acredita que a tecnologia ajuda muito os músicos, pela divulgação ou até mesmo pelo contato com outros artistas. Thedy conta que surgiu uma parceria com Roberta Campos, cantora e compositora mineira: ‘’Isso surgiu através das redes sociais, eu a vi tocando uma música do Nenhum de Nós sobre o tempo e ela disse que adorava, entrei em contato com ela, via Instagram, dizendo que eu também gostava do trabalho dela, e aí a gente começou a conversar e surgiu uma parceria’’ .
A evolução da indústria musical se mistura com a evolução das mídias e formatos de distribuição, desde os discos de vinil, passando pelo rádio, as fitas K7 e os CDs, até chegar ao MP3. Como tudo o que a web já mudou, na música não é diferente: o poder mudou de mãos e, agora, a tendência é que o público dite o que quer ver ou ouvir, e não o contrário. Com isso, ocorreram mudanças na forma com que as gravadoras trabalham, o que também garantiu acesso de produtores independentes a um enorme público.
O fim dos álbuns
Tudo começou ainda na década de 90, mais precisamente em 1998. Enquanto no Brasil os mais moderninhos usavam discmans (reprodutores portáteis de CDs) para ouvir suas músicas, na Coréia do Sul a Saehan criava o primeiro aparelho para reprodução de MP3.
A portabilidade aliada ao fácil acesso às músicas era a chave para toda uma revolução. Enquanto os CDs exigiam meses de espera para seu lançamento e os discos tinham preços nada camaradas, o MP3 poderia ser baixado em alguns minutos. Em 2001, o “boom” da mobilidade explodiu. Steve Jobs anunciava o que viria a ser a maior febre da década: o iPod. Ele foi apresentado apenas alguns meses após o lançamento do iTunes, a loja da marca que permite comprar músicas em formato digital.
Para Duca, os aplicativos vieram para ajudar: ‘’Eu sou um cara otimista. A possibilidade de poder colocar seu trabalho numa plataforma que tem o potencial de chegar a qualquer pessoa do planeta é incrível.’’ A inovação está na velocidade, na comodidade e na economia: sem precisar sair de casa e sem a necessidade de fazer a compra de álbuns inteiros, você poderia curtir suas músicas preferidas, algo nunca imaginado antes.
Thedy conta que antigamente ganhar dinheiro vendendo apenas álbuns era difícil, tinha que fazer uma música de muito sucesso, e que hoje em dia os streamings são muito semelhantes aos discos dos tempos antigos. Ele aponta que a renda dos músicos está de fato nos shows: ‘’O mais importante como fonte direta sempre foi um show, então em função da pandemia dá para entender como os músicos estão passando dificuldade, toda vida sempre foram os shows’’.
O método de composição
Músicas partem sempre de uma experiência. A música tem o nosso jeito, nosso estilo, ela leva um pouco de nós para aqueles que a escutam. Existem pessoas que têm o dom de cantar, outras para tocar um instrumento, outras para compor, e nem sempre o compositor é um músico, mas existe uma semelhança com o músico.
Dedicar tempo de qualidade para compor uma canção é o que muitos músicos fazem para obter sucesso. No entanto, compor uma música não é tão fácil quanto parece. Pelo contrário, se você não tiver direcionamento correto, criar uma composição se torna bem difícil.
Duca relata que tenta achar inspirações no seu dia a dia: ‘’O processo criativo é algo muito pessoal. No meu caso busco a inspiração de tudo que acontece no cotidiano e esse tem sido muito rico em acontecimentos intensos. Não acho que mude o processo, acho que mudam as motivações”, destaca o músico.
Escrever música para Thedy Corrêa não tem uma regra, às vezes vem a ideia de como seria a música, mas não tem a letra, ou se tem a letra, mas não tem a melodia: ‘’O fato de não ter método me ajudou muito porque não me engessou’’. O cantor comenta que no começo da carreira escreveu diversos poemas e depois que iria musicar. Com o passar do tempo e ganhando cada vez mais experiência, Thedy conta que algumas músicas já foram criadas com uma simples batida: “Eu acho que é legal não ter método para compor, porque inspiração pode vir de várias maneiras.”
Curiosidade: Músicas que achava que não ia fazer sucesso
Uma curiosidade que perguntamos aos entrevistados é qual música eles pensavam que não iria fazer sucesso e os surpreendeu:
Para Duca, a maioria das músicas que tocam ele não imaginava o sucesso que iria fazer: “A música ‘’Ao fim de Tudo”, por exemplo, sempre achei que seria uma música lado B, mas foi a primeira faixa do DVD "Acústico no Theatro São Pedro” da CQ e uma das mais tocadas. É impossível prever. O importante é que a música seja sincera.’’
O vocalista da banda Nenhum de Nós conta que diversas músicas ele achou que não iriam fazer o sucesso que fez, mas em especial a canção “Astronauta de Mármore’’, por uma indicação da sua produtora que a banda decidiu colocar a música em seu disco. A canção foi uma homenagem ao David Bowie: “Uma música que a gente colocou no disco por sugestão do nosso produtor Reinaldo Brito e ele disse, faça uma versão como homenagem ao Bowie, e foi exatamente isso que a gente fez, a letra é uma letra que viaja pela história do gol e de outras canções do Bowie’’. Para explicar o sucesso da canção, Thedy diz que não consegue entender: “O sucesso dela eu te diria que era completamente inexplicável, eu tenho alguma ideia de que o violino tocou as pessoas de uma maneira diferente, e a melodia genial do Bowie, que a gente recriou em português com o ‘sempre estar lá e ver e voltar’, que tem essa licença poética no erro de português, mas eu acredito que o violino e essa melodia, que foram essas coisas que realmente tocaram’’.
Para finalizar, Thedy fala sobre o sucesso de cada música: “O sucesso eu realmente te digo, com clareza, ele é inexplicável, ninguém sabe quando uma música vai ser um estouro e ninguém sabe quando investe tanto em uma música e ela não estoura, o porquê ela não estourou, tem muita a ver com a música ser certa, na hora certa.’’
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